
Rafael Gloria
Pressa
Atualizado: 5 de fev. de 2022
Eu te encontrei por volta da uma da tarde, você estava cansada, sentada perto do colégio onde ia voltar a estudar. Você me esperou achando que a gente poderia conversar mais profundamente, por um tempo, mas eu estava com pressa - como sempre estou quando vou lidar com alguém da minha família. Uma pressa que me corrói e que me faz não conseguir sentir tudo que poderia sentir nesses laços que são tão fáceis e tão comuns para a maioria das pessoas. Eu entreguei os documentos e você fez a inscrição. Depois, a gente caminhou pelo bairro onde moro e fui com você ao supermercado na Independência, onde comprei itens básicos que você precisava, coisas como batatas, leite, azeite e frango. Você sempre dizia para comprar os mais baratos - não foi sempre assim - e eu comprei algumas coisas a mais, porque me senti mal, mas porque também queria que você se sentisse bem. Apesar disso, a pressa ainda continuava ali, me acelerando. Depois que passamos as compras, logo chamei um uber e fiquei apenas concordando com as coisas que você me dizia, que queria conseguir acabar o EJA logo, que imaginava fazer um vestibular e que queria fazer História, queria estudar História antiga. Apenas concordei, mas não falei o que realmente estava pensando. O carro chegou e me despedi, com você me perguntando se eu ia lhe convidar para o meu aniversário. Naquele momento, com pressa, eu pausei, mas logo respondi que não ia fazer nada. Então, você foi embora.