
Rafael Gloria
Minha vó
As pessoas não morrem, continuam com a gente até o fim. Ainda mais aquelas que nos marcaram. A memória trabalha de forma complexa, fazendo a gente perder a noção do tempo. Foi quando que ela me despertou a curiosidade? Minha vó adorava contar as histórias, sejam lembranças felizes que tinha da infância ou narrativas tristes de passagens importantes da sua vida. O quanto tudo era verdade ou era modificado pela idealização do tempo? Nunca vou saber. Mas não importa, ela me ensinou a ouvir, e isso é fundamental na minha trajetória. Uma escuta complexa que eu comecei a aprender com ela, junto com um gosto por também contar histórias. No meu caso, de escrever sobre pessoas, algo que eu sempre vou carregar por toda a minha existência. E que, de certa forma, me levou ao jornalismo também. Tenho algumas sensações que sempre vão ficar comigo, os almoços nos domingos quando eu era criança, minha vó sempre foi uma excelente cozinheira – e ela gostava de fazer comida para nós, o afeto faz toda a diferença. As idas à praia de Arroio Teixeira, no litoral norte gaúcho. O apoio contínuo e de todo o tipo em me fazer querer estudar, em ficar feliz pelas minhas conquistas. Minha vó era uma pessoa muito católica, e também uma pessoa muito determinada (ou teimosa), logo, era difícil tirar uma ideia dela. Lembro de uma história que ela sempre me contava sobre como prometeu ao Santo Antônio que iria descalça em uma das famosas profissões da igreja que leva o nome do santo se eu melhorasse de uma infecção hospitalar que quase me levou quando eu era bem criança. Eu melhorei, e ela cumpriu a promessa. E a gente criou esse laço que nunca vai acabar. Mesmo que eu não estivesse presente nos últimos tempos. Eu sempre senti ela perto. E ela sempre estará comigo.